Escrito por Fábio Willians
Quarta, 05 Janeiro 2022 08:53
Pelo menos três macrorregiões de saúde em Minas estão com os leitos clínicos lotados. De acordo com o painel da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), as regionais Central, Leste e Triângulo do Norte estão com a taxa de ocupação em 100% e a média estadual é de quase 85%. No caso das UTIs, a situação é melhor, com média está em 52,3%.
Em Belo Horizonte, as taxas de ocupação para vagas exclusivas Covid subiram mais uma vez, de acordo com o boletim epidemiológico desta terça-feira (4). Para enfermaria, está em 75,1%, enquanto para a UTI está em 64,2%. Esses dados refletem na taxa de transmissão (Rt), medida em 1,17.
A alta demanda por leitos pode ter múltiplos fatores, segundo o infectologista e professor da UFMG Unaí Tupinambás. Pode ser um efeito da Influenza, da chegada da variante ômicron e do atendimento a pessoas com falta de controle de doenças crônicas, como hipertensão e diabetes.
Existe uma alta na demanda de atendimentos a pacientes com sintomas respiratórios e uma crescente significativa na taxa de positividade nos últimos dias de 2021, mas ainda não é possível afirmar se a pressão no sistema de saúde acontece por um efeito da ômicron. “Nossa expectativa é de aumento no número de casos, mas sem um acompanhamento de casos moderados ou graves. Temos que ficar de olho na letalidade”, afirma Tupinambás.
Segundo ele, a África do Sul e o Reino Unido já verificam uma curva descendente de casos, sem grande impacto nas internações por causa da ômicron. “O cenário deve piorar nos próximos 15 dias, por causa do fim de ano, mas depois vai estabilizar e cair. Temos que ficar de olho é na UTI e na taxa de letalidade, que são nossas maiores preocupações”.
Também infectologista e professor da Faculdade de Medicina da UFMG, Geraldo Cunha Cury explica que a pressão sobre os leitos reservados ao coronavírus está ligada à grande transmissão do vírus da gripe no fim de ano. Muitas dessas pessoas que adquirem sintomas graves acabam sendo internadas com suspeita de Covid, interferindo no monitoramento do Sars-Cov-2.
"Estamos tendo uma epidemia de Influenza. Os sintomas da Influenza e da Covid são muito parecidos. Mas, enquanto não há exame para definir, a pessoa vai para o leito, é lógico. Se ela está com a saturação do oxigênio baixo e tem que ser internada, o diagnóstico é feito depois disso", explica o professor.
Cury adianta que a expectativa é de que a ômicron provoque muitos atendimentos para sintomas gripais, mas sempre pressão para internações por lesões pulmonares. "Os boletins da Inglaterra e de outros países indicam que a ômicron é muito mais contagiosa que as outras, inclusive a delta. Ela é muito mais de produzir uma infecção respiratória alta, na traqueia, nariz e garganta, do que no pulmão. A delta não. Ela afeta bastante o pulmão".
Demanda maior no atendimento pediátrico
A reportagem conversou com uma profissional de enfermagem que trabalha no Hospital Odilon Behrens, que preferiu não se identificar. Ela confirmou que o hospital tem ficado muito cheio nos últimos dias, especialmente em relação aos atendimentos pediátricos.
“O hospital tem ficado muito cheio. Tanto na parte de acolhimento e triagem como nas enfermarias. Além disso, também tem a falta de funcionários que sobrecarrega quem está no plantão e prejudica o atendimento do usuário”, relata a trabalhadora.
No caso do Odilon, os leitos de enfermaria não estão cheios de pacientes com sintomas respiratórios, que costumam ser atendidos na UPA localizada ao lado do hospital. Uma mostra da causas múltiplas de internação do cenário atual.
Nesse momento de antecipação da sazonalidade da Influenza, as crianças sofrem mais. De acordo com a Fundação Hospitalar de Minas Gerais (Fhemig), o aumento da demanda por atendimentos pediátricos, por conta da sazonalidade de doenças respiratórias, ocasionou uma espera maior do que a habitual no pronto-atendimento do Hospital Infantil João Paulo II (HIJPII).
A fundação garante que a escala de profissionais da unidade encontra-se completa e a capacidade de atendimento foi ampliada. Mesmo assim, o alto número de casos acaba se refletindo em um grande tempo de espera no pronto-atendimento.
Maior taxa de ocupação desde abril
De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, a última vez em que a taxa de ocupação de leitos Enfermaria Covid esteve acima de 75,1% foi no dia 7 de abril de 2021, quando o índice estava em 75,3%. Mas naquele momento, havia um número muito maior de vagas, ressalta a pasta. Houve uma redução de leitos exclusivos conforme a demanda foi decrescendo e eles podem ser reconvertidos, se houver necessidade.
O grande número de pessoas infectadas com Influenza pode estar interferindo nos números referentes a internações para pacientes com coronavírus. “É importante esclarecer que pacientes com quadros gripais, ainda sem resultado para a Covid-19, também podem estar internados nas enfermarias, pois os sintomas são muito parecidos”, afirma a secretaria.
“A Secretaria Municipal de Saúde monitora diariamente os números epidemiológicos e assistenciais da doença no município e qualquer agravamento que comprometa a capacidade de atendimento será tratado da forma devida, com o objetivo de preservar vidas”, completa a pasta, por meio de nota.
FONTE: O TEMPO
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