Escrito por Fábio Willians
Terça, 15 Dezembro 2020 09:22
O avanço de casos de Covid-19 vivenciado na capital também se espalha pelo interior de Minas Gerais. Nas últimas semanas, o cenário de piora foi confirmado no recuo da flexibilização de várias regiões do programa Minas Consciente, com seis macrorregiões na Onda Vermelha, e também na taxa de ocupação de UTIs, atualmente em 67,3%. A pressão mais impiedosa, no entanto, acontece porta adentro dos hospitais. Algumas cidades já apresentam taxas altas de ocupação de leitos e se articulam para tomar medidas que evitem o colapso da rede de saúde. A emissão de decretos municipais que restrinjam ou reorganizem o horário de funcionamento do comércio está entre as medidas possíveis.
A região Leste do Estado é uma das que causam maior preocupação. Dados do boletim epidemiológico demonstram que por lá a ocupação de UTIs encontra-se em 87,21% – é o maior índice entre as 14 macrorregiões, e todas elas exibem ocupação maior que 45%. Situada na região, a cidade de Governador Valadares chegou perto do esgotamento, já que a ocupação de leitos estava em 98% no fim de semana, após três leitos do Hospital Municipal terem sido interditados devido a infiltração. Os leitos foram retomados, e a taxa passou para 86,2%. Na rede privada, o problema é maior, com ocupação de UTIs em 100%.
A cidade reclama que grande parte dos atendimentos é de de pacientes oriundos de outros municípios. Um ofício foi encaminhado ao governo estadual solicitando transferência de pacientes. A Secretaria de Estado de Saúde (SES) confirma o recebimento do documento e disse que está em fase de avaliação.
Para Eduardo Luiz, presidente do Conselho Estadual de Secretarias Municipais de Saúde (Cosems), o cenário é temerário e demanda atuação efetiva das prefeituras. “Isso nos preocupa. Então, precisamos reorganizar a forma de enfrentamento para que possamos proteger nossa população”, avalia.
Autoridades podem restringir circulação de pessoas e horário do comércio
A possibilidade que vem sendo aventada pelos secretários de Saúde, segundo ele, é emitir decretos que restrinjam o funcionamento do comércio, o que ajudaria a diminuir o fluxo de pessoas transitando pelas cidades e contribuindo para a transmissão do vírus. “Não é lockdown nem paralisação das atividades, mas temos que diminuir a circulação das pessoas”, opina. “A economia brasileira não suporta o fechamento total, mas escalonar horários é importante para limitar o número de pessoas nas ruas. A população precisa entender a situação”, completa.
Outra região que causa preocupação é o Vale do Aço, que apresenta 85,78% de ocupação nas UTIs. Em Ipatinga, a taxa é ainda maior e chega a 98%. Montes Claros é outra cidade que acaba atraindo pacientes das pequenas e pobres municípios da região. Por lá, os hospitais estão com 56% de ocupação dos leitos de UTI Covid. “Nos preocupa o aumento de incidência vivenciado no Norte de Minas”, diz a secretária de Saúde do município, Dulce Pimenta. “Temos pacientes até da Bahia”, relata. Na região, a cidade de Salinas já apresenta esgotamento da rede de saúde, com ocupação total de sua capacidade.
Em São João del Rei, no Campo das Vertentes, o prefeito divulgou um vídeo nas redes sociais informando que vai proibir o funcionamento de bares e restaurantes a partir desta terça-feira (15). Ele estuda ainda tomar outras medidas para conter o avanço do vírus. “A Covid aumentou muito, e temos que nos prevenir”, alertou.
Situada na Zona da Mata, Juiz de Fora presencia aumento de casos há várias semanas. No município, quatro dos 13 hospitais que atendem pelo SUS estão sem leitos disponíveis. “Houve crescimento da curva de contágio no Estado inteiro. Acredito que, principalmente com o pleito eleitoral, a população relaxou um pouco nos cuidados e na proteção contra a Covid”, avalia o presidente do Cosems.
Cidades do interior registram alta na ocupação de hospitais
Só no fim de semana, a taxa de ocupação de leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) em Belo Horizonte subiu 5,6 pontos percentuais, indo de 56,7% na sexta para 62,3% ontem. Com isso, o indicador-chave da pandemia na capital se aproxima do nível vermelho, de maior gravidade, contado a partir dos 70%. No sistema público, havia ocupação de 63,4% das UTIs e, no privado, 77,9% no domingo.
Os dois outros índices, transmissibilidade e ocupação de leitos de enfermaria, mantiveram-se no nível amarelo no período, com o último flutuando para baixo. Respectivamente, os índices marcam Rt 1,03 – igual ao de sexta – e 51,5%, 0,9 ponto percentual menor. São 57.729 casos confirmados na capital e 1.741 óbitos até agora.
Médica relata falta de profissionais de saúde
Em Teófilo Otoni, a situação também é difícil. “Estamos vivenciando um momento em que faltam profissionais em todos os hospitais, seja médico, seja enfermeiro ou técnico. Alguns atingiram o ápice da exaustão, pois estiveram dando o sangue desde o início dessa luta. Então, decidiram abandonar. Em outros casos, novos serviços de saúde enfrentam a dificuldade para proceder com abertura, pois não existem mais profissionais para ocupar os cargos. Tanto o setor público quanto o privado vivenciam o caos. Voltou a crescer o número de novos casos notificados, e, além dos pronto-atendimentos lotados, vivenciamos CTIs sem vaga. Algumas famílias possuem recursos para os encaminhar para locais que ainda conseguem receber, por exemplo Belo Horizonte, mas infelizmente são a exceção”, relata uma médica da cidade que não quis se identificar.
Ela conta que perdeu uma colega médica de 32 anos na semana passada. A profissional não tinha comorbidades. “Foi o momento mais tenso que vivi até o momento”, diz.
FONTE: otempo.com.br
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