Escrito por Fábio Willians
Sexta, 05 Abril 2019 21:50
O governo de Minas vai acabar com a Rádio Inconfidência na frequência AM. A informação foi confirmada pelo secretário da Cultura Marcelo Matte na noite dessa quinta-feira, em cerimônia dos novos dirigentes do setor no Palácio das Artes e deixou os servidores do órgão em estado de apreensão com as possíveis demissões.
“Num prazo adequado, com planejamento, cuidado, preservando conteúdos relevantes, terá de ser extinta como todas as grandes redes de rádio já fizeram. Abandonaram a faixa AM porque isso é uma imposição legal”, disse Matte ao ser questionado sobre o possível fim da Inconfidência AM.
O caso será assunto de duas reuniões nesta sexta-feira, segundo o Sindicato dos Jornalistas, que alega que o governo pretende demitir concursados ilegalmente. As demissões chegariam a um terço do quadro.
De acordo com funcionários da Rádio Inconfidência, que preferiram não se identificar para evitar retaliações, o temor é porque a maior parte dos concursados está lotada na emissora AM. A transferência foi ocorrendo em gestões passadas e teria sido feita para dar espaço para a contratação de comissionados na FM. Há ainda o temor de que isso seja o início de um desmonte da emissora pública.
“O clima é de tristeza e muita revolta, porque nós fizemos concurso dentro do que a lei exige e nossos salários estão abaixo do mercado. Os comissionados, não só da rádio, mas de todo o estado, são muito melhor remunerados e não faz sentido querer fazer economia com quem já não representa tanto custo assim”, disse um servidor.
A Inconfidência AM é a rádio mais antiga de Minas, tem 82 anos e o sinal da emissora chega a todos os municípios mineiros. Ficou conhecida como "Gigante no ar".
No evento, o vice-governador Paulo Brant disse que todos os equipamentos culturais do estado serão mantidos, mas “transformados e melhorados”.
O governo de Minas foi questionado sobre as possíveis demissões na Infonfidência mas ainda não se manifestou sobre o assunto.
Leia a íntegra do posicionamento da Secretaria de Estado de Cultura
O novo presidente da Rádio Inconfidência, Ronan Scoralick, apresentou ao secretário de Estado de Cultura e Turismo, Marcelo Matte, nesta quinta-feira, 4/04, um diagnóstico geral da emissora, junto a uma proposta de planejamento estratégico e orçamentário para a gestão da emissora nos próximos anos.
O diagnóstico mostra que a rádio enfrenta um passivo de quase R$800 mil e ainda não conta com um plano de captação de receitas externas. Apesar da instituição ter um modelo jurídico que permita essa captação, nunca foi feito um trabalho incisivo com esse objetivo.
O passivo da rádio já está sendo liquidado, a partir da retomada do orçamento de custeio da instituição, possível após negociação entre as secretarias de Estado de Planejamento e Gestão, de Fazenda e de Cultura e Turismo. O governo entendeu que a captação de recursos externos é um norte de gestão, mas deverá ser feita de forma gradual, e que é preciso garantir os recursos de custeio enquanto a instituição se prepara para aderir a um novo modelo de sustentabilidade econômica.
A secretaria acredita no potencial da rádio de captar recursos, seja na iniciativa privada ou mesmo em órgãos do poder público, já que a instituição tem credibilidade e qualidade de programação. O planejamento da nova gestão inclui o reforço do setor de captação, que poderá ampliar os horizontes de atuação da emissora, ao permitir que a mesma diminua gradativamente sua dependência do tesouro estadual. A proposta do presidente da rádio é ampliar em 20% a arrecadação ainda este ano e chegar a 100% do valor de custeio da emissora até o final de 2020.
Outra questão apresentada no diagnóstico da rádio refere-se à frequência AM, que vem apresentando uma série de problemas técnicos e financeiros. A questão está inserida em um processo de mudança tecnológica nacional da radiodifusão. O ano de 2023 foi o prazo máximo estipulado pelo Governo Federal para o fim da TV analógica no Brasil, como condição para a existência da faixa estendida de FM. Como 97% das emissoras do país já solicitou a migração, a tendência é que a faixa AM entre no ostracismo, o que já vem acontecendo em grande parte dos estados. No caso da Rádio Inconfidência, os equipamentos da AM estão sucateados e faltam peças de reposição no mercado. Além do alto custo e dificuldade de reposição, a frequência apresenta uma queda gradativa de audiência, devido às mudanças de hábitos das pessoas e à qualidade ruim do sinal. Com isso, a manutenção do sinal torna-se algo inviável, semelhante ao que significaria manter o sinal analógico de uma TV. O que não faz sentido diante da inovação tecnológica atual.
De acordo com o exposto, a Presidência da rádio tomou a decisão de interromper o sinal AM da emissora. Os programas exclusivos dessa faixa estão sendo analisados, para uma possível manutenção na grade do FM. É o caso do programa Trem Caipira, que passará por adequações, mas continuará existindo na FM. A proposta da nova gestão é manter o espaço para a música tradicional de raiz, estilo que tem a cara de Minas Gerais e está presente em diversas regiões do estado.
A ideia é fortalecer a presença da música tradicional mineira na rádio, mas buscar inovação no formato de sua apresentação. Em 2018, a viola foi reconhecida pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais como patrimônio imaterial do estado. Existem mais de 1.500 violeiros cadastrados pelo Instituto, que são fonte importante da nossa cultura e sempre terão espaço na Rádio Inconfidência. Mas sua apresentação pode ser pensada dentro de uma perspectiva mais atual, inclusive porque é tradição da comunicação pública mineira ser inovadora.
FONTE: em.com.br
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